
- A primeira delas ocorre quando recorremos ao filósofo grego Sócrates para fazer a seguinte sentença "só sei que nada sei", que a ele é atribuída, para por diversas vezes utilizá-la de maneira equivocada, um dos equívocos consiste em simplesmente dizer que nada sabemos e que tudo ignoramos, perdemos assim seu sentido fundamental que, pretendo recuperar aqui, e consiste na sabedoria de reconhecer a própria ignorância como ponto de partida para o saber. Isto é: Reconheço a minha própria ignorância para que dela possa me libertar, porque o seu reconhecimento é o que torna necessário a busca do aprendizado, do conhecimento. Esta primeira herança socrática remete a primeira atividade proposta em nosso curso e que se refere a nossa identidade como professor, nela em meu texto trabalhei a idéia de que um professor não deixa de ser aprendiz e que, portanto, professor e aprendiz não são termos opostos ou muito distantes, mas complementares.
- A segunda herança socrática é negativa em relação a nós: profissionais da educação. E para responder a esta segunda atividade – sobre o que é ser professor hoje – retomo a segunda contribuição socrática (negativa), e é o que narrarei a seguir.
Na Grécia Antiga havia os sofistas, que foram professores muito criticados por seus contemporâneos porque cobravam pelas aulas, inclusive por Sócrates que os acusou de prostituição. Ocorre que na Grécia Antiga apenas os nobres se ocupavam com o trabalho intelectual, pois gozavam de tempo para o ócio, já que, os trabalhos manuais eram tarefa dos escravos, e os sofistas pertenciam a classe média, portanto, faziam das aulas o seu ofício, já que, não eram suficientemente ricos. Quanto a isso, Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins (1993) frisam que "até hoje os professores são mal-remunerados tanto porque as pessoas se recusam a pagá-lo de forma semelhante ao que é feito aos outros profissionais liberais, tanto porque os próprios professores sofrem da 'síndrome de Sócrates' !" Penso que continuamos a sofrer da "síndrome de Sócrates", os nossos contemporâneos e nós, profissionais da educação de hoje. Uma maneira simples de compreendermos essa questão é a seguinte: por que o piso salarial do professor (profissional de nível superior) é inferior ao de qualquer outro profissional com nível superior no Estado? Penso que o caminho desta indagação é o caminho para compreendermos o que é ser professor hoje. Nós como todos os outros cidadãos brasileiros desejamos a melhoria da qualidade da educação, e trabalhamos para isso, mas acredito que a melhora dos índices de qualidade não depende APENAS da introdução de recursos tecnológicos nas escolas, da motivação não remunerada dos profissionais da escola, de cursos de capacitação, pois em uma sociedade em que a estética prevalece sobre a ética, a valorização do profissional da educação depende fundamentalmente da valorização salarial da profissão. Então, um movimento importante e lógico no processo da melhoria da educação está na equiparação dos pisos salariais com outros profissionais com nível superior, que são igualmente importantes para a vida social.
José Antônio Moreira